quarta-feira, 8 de abril de 2015

RUI CAEIRO

Na minha terra as largadas são, antes de mais, pretexto para um são convívio entre a população e os touros.



Uma vez assisti à seguinte cena: um jovem está a ser perseguido por um dos touros e refugia-se atrás de um banco de pedra a meio da praça. Fica ele de um lado do banco, o touro do outro, os dois assim se fitando e desafiando. Imóveis, arquejantes ambos. Não chegava a um metro a distância que separava a cabeça do rapaz e a do corpulento animal. O rapaz enfrent...ava com uma inesperada serenidade as chispas ou o ódio que os olhos do touro despediam. Estiveram assim durante uma eternidade, isto é, um ou dois minutos, cada um como que encantado pelo outro. Em volta, a multidão seguia a cena conservando um silêncio religioso. Foi o touro a dar o pontapé de saída, ou antes, a cornada no banco que lhe esfanicou a parte de cima. O jovem mal teve tempo para dar um salto atrás, assim evitando ser atingido: pelos cornos do touro, ou por um calhau de mármore proveniente da desintegração do banco. Foi, sem dúvida, um magnífico "tête à tête".
E tudo acabou bem.




Em Vila Viçosa um banco de mármore substitui-se com facilidade.



in DEUS E OUTROS ANIMAIS, Averno 2015.

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