sexta-feira, 17 de abril de 2015

GÜNTER GRASS


GLÓBULOS VERMELHOS


Mas nua...
e reduzida somente a proporções
fazes-me pena.
Por isso tento mudar-te o joelho de lugar.
Dá-me que pensar a tua espinha côncava.
Não compreendo porque és tão feia
nem porque sou incapaz de deixar de te olhar
para contemplar, por exemplo, o prado verde ou o rio
que são tão naturais
e não possuem clavículas.



Amo-te
como é possível.
Vou compor um ballet
para os teus glóbulos, os brancos
e os vermelhos.
Quando cair o pano
tomar-te-ei o pulso e verei
se o esforço valeu a pena.






PONTUAL


No andar inferior
uma jovem mãe bate
no seu filho
em cada meia-hora.
Por esse facto
vendi o meu relógio
e guio-me somente
pela mão dura
do andar inferior,
os cigarros contados
ao alcance da mão;
o meu tempo está bem medido.




Trad. de Egito Gonçalves
in Cadernos de Poesia HÍFEN nº5, Porto, Março 1990.

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