sexta-feira, 14 de junho de 2013

Servidões das "Servidões"


    "Mal tinha saído, já Servidões (numa edição de cinco mil exemplares e com reedição interdita pelo autor, informou a editora) estava esgotado na maior parte das livrarias. Estranho fenómeno este, de precipitação e multiplicação de leitores e compradores de um livro de poesia - o único medium de massa em que o número de produtores ultrapassa o dos consumidores, como escreveu uma vez o poeta e ensaísta Hans Magnus Enzensberger. Um dos factores que explicam o que aconteceu é ao mesmo tempo perverso e irónico: Herberto Helder zela tanto pela autonomia da sua obra (e isto significa, sobretudo, fazer com que ela apareça, livre de tudo o que a parasite ou a desvie para um espaço que não é o seu), que acabou por criar as condições aptas a um investimento mercantil: o seu livro é capturado por especuladores, como se se tratasse de um produto financeiro ou de uma mercadoria rara. E para que seja considerada rara é preciso que se torne objecto de um desejo de posse e não de leitura, pois o acesso a esta está sempre garantido e não se pode manter como desejo, não pode ser objecto de especulação. A este triunfo do valor de troca (ou melhor, da perspectiva de que ele vai triunfar, como acontece nos valores cotados na bolsa) soma-se um outro factor que o potencializa: o papel que na sociedade de massa têm os "filisteus cultivados" (tal designação, em que a palavra "cultivados" não deve ser substituída por "cultos", é de Hannah Arendt)."

António Guerreiro in Estação Meteorológica, ípsilon 14-06-13

1 comentário:

samartaime disse...

Filhos das putas, esqueceu-se o António Guerreiro de lhes chamar mas cá estou eu para esclarecer.

A salsicharia Porto deve estar impante com a glória dos chicos.
Espero que o Herberto consinta, obrigue, berre por outras edições.

Mudando de assunto: o face é uma boa merda publicitária.