sexta-feira, 25 de maio de 2012

Florbela, Adília & Pessoa


 
 
 
Nota: Neste poema publicado em 2005, fiz comparecer Pessoa, Florbela e Adília Lopes. Esta última no seu conhecido livro "Florbela Espanca
espanca", glosa um soneto da popular autora, onde esta afirma: "Eu quero amar, amar perdidamente", contrapondo um simétrico "Eu quero foder/foder achadamente". A expressão Possessio maris que evoquei para título deste poema é uma epígrafe da "Mensagem" de Fernando Pessoa e significa, em latim, "possesão dos mares". Sabe-se que a "possessão" implica também ser possuído. Pessoa descreve isso muito bem, no poema "Mar Português" do livro citado: "Ó mar salgado, quanto do teu sal/são lágrimas de Portugal!". Esta possessão pode igualmente ser convocada pela paixão amorosa realizada ou não. Lembrei-me de isto hoje, a propósito de alguns comentários no facebook, muito enjoados com a poesia e a figura de uma das nossas mais
conhecidas autoras: Florbela Espanca (1894-1930).


POSSESSIO MARIS


            para Adília Lopes

É tão banal no poema
saber dourar a cópula. Como, ao
amar, resistir à boa humilhação de
babélica e virtuosamente
foder e ser fodido. Assim

tão cruamente seja dita
a bíblica prática do conhecimento
dos corpos livre de intertextos e
arredada da culpa e das pestes
racionais.

As almas sensíveis, minha amiga,
não acham sobre-humano nem
muito estético esse acto de achada
eficácia. Desdenham e enjoam
o látego terminal do gozo. Eternos
nautas em seco, aportam a doutos

ensaios e outras posições
elípticas, esquecidos do genitivo
de posse e das declinações trágico-marítimas
onde nunca ninguém possuiu
sem ser possuído.


I.L.
( in Logros Consentidos, Ed. & etc, 2005
Lisboa, p.18 )

1 comentário:

samartaime disse...

Ó mar da palha perdida
mente
Quanta da tua palha achada
mente
são vidas fodidas impunemente