sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Qual compaixão?

A propósito do poema de José Miguel Silva, do livro Erros individuais, aqui reproduzido abaixo, noutro post, em que se alude ao compadecimento cristão, veio-me à memória um trecho do romance de Milan Kundera,  A Insustentável Leveza do Ser, em que este autor faz uma análise do conceito de compaixão segundo as culturas latinas e germânicas, servindo-se de uma perspectiva filológica.
Passo a reproduzir um texto da Wikipédia em português, sobre o tema:
"Um capítulo inteiro é dedicado à questão da atitude humana de compaixão. Sob uma perspectiva filológica, Kundera compara o sentido da expressão nas línguas latinas e nas línguas germânicas, e as implicações dessa nuance de sentido na vida psicológica e sentimental dos indivíduos.

"Kundera afirma que as derivações latinas da palavra compaixão significam simplesmente piedade, um sentimento que se impõe quando um indivíduo está em posição de superioridade frente a um outro que sofre. Assim, a compaixão torna-se uma relação de poder dominadora, na qual um indivíduo se sobrepõe sobre outro, podendo oferecer-lhe sua compaixão como um presente, sem porém compartilhar do sentimento que leva o próximo a sofrer.
"Nas línguas germânicas, porém, compaixão assume um sentido de "co-sentimento": o indivíduo que sente compaixão sofre junto com o seu próximo, o mesmo sentimento. Para Kundera, a compaixão é muito mais terrível do que a piedade porque a incapacidade humana de transpor os limites da subjetividade faz com que o sentimento careça de um certo esforço imaginativo que quase sempre multiplica a dor do próximo, fazendo-a mesmo maior ..."

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