sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Nova Poesia Portuguesa





SUB ROSA
- para o Herberto Helder -

Não somos os últimos, pois se
há coisa que o mundo sempre fez bem
foi acabar. De novo e sempre: acabar.

Mas já não trabalhamos com o ouro
e temos um certo pudor tardio
em falar de deus, do amor ou até do corpo.

As metáforas arrefecem, talvez contrariadas.
São casas devolutas, mães risonhas
ou sombrias cujo grito deixámos de escutar.

Do lixo, porém, temos um vasto
e inútil conhecimento. Possa
ele servir de rosa triste aos
que não cantam sequer, por delicadeza.

in A Nova Poesia Portuguesa, de Manuel de Freitas. Edição Poesia Incompleta, Lisboa 2010

1 comentário:

pilantra disse...

Ena ena!Outra grande vitória da classe operária.

Eu volto à minha precária, bjs